Soneto da Convivência

No princípio fomos capazes de encontrar o suficiente em nós mesmos.

O tempo passou,

percebemos que não estávamos sós,

e esta afirmação de repente se tornou uma mentira.

No presente não somos suficientes.

Não nos contentamos conosco,

não nos contentamos com os outros,

e definitivamente não contentamos aos que nos rodeiam.

No futuro talvez percebamos que o suficiente é relativo,

que a verdade é aquilo em que você acredita,

que as coisas que verdadeiramente importam não são as que ficam aqui.

Mas o futuro não é algo que consigamos entender.

Por enquanto, olhamos uns para os outros e tentamos nos contentar

com o simples ato de comunicar.

Ego

Não há nada.

Só há luz e som e caos,

e coisas quebradas e promessas não cumpridas,

e velhos tolos, e pessoas tolas, e jovens tolos também.

E há desordem,

e há ódio,

e há medo.

E há eu.

Não há nada.

Nem voz,

nem sorriso,

nem gritos,

nem lágrimas.

Só há eu.

Natureza

Quando chove,

os rios enchem,

as florestas bebem,

as cidades se inundam,

e nós morremos afogados.

Quando há sol,

os rios brilham,

as florestas comem,

as cidades se incendeiam,

e nós morremos queimados.

Existência

Não vim aqui para falar sobre fatos

Não vim aqui para falar da verdade

Não vim aqui para conversar.

Não sei muito bem por que vim aqui.

Não quero viver,

mas não quero morrer.

Não quero ficar,

mas não quero ir embora.

Acho que às vezes

tudo que quero

é deixar de existir

e nunca ter existido.